quarta-feira, 29 de maio de 2013

Avaliar a avaliação de desempenho

Não está em causa o facto de a avaliação do trabalho dos docentes e investigadores universitários ser indispensável, tanto para a prestação de contas aos que financiam as instituições como para a averiguação de desempenhos profissionais adequados.

Na universidade pública portuguesa, a avaliação de desempenho foi introduzida na sequência da avaliação praticada na função pública em geral. Consiste num instrumento de informação e controlo para uma gestão supostamente rigorosa dos recursos humanos. Foi neste sentido que o modelo foi discutido – também no ISCTE-IUL – e objecto de consulta com os sindicatos. No entanto, devido à atual crise financeira, apenas poderia ter efeitos assimétricos, neste caso punitivos; mesmo quem consiga obter classificações de muito bom ou excelente não pode usufruir de qualquer benefício. Mas a questão essencial é: este modelo estimula um trabalho académico e científico de qualidade, que cumpra a missão da universidade na nossa sociedade?

O modelo de avaliação agora aplicado na universidade portuguesa assenta, em grande medida, em critérios quantitativos e em noções de produtividade importadas de modelos empresariais de avaliação. Assenta na associação da meritocracia com a qualidade através de incentivos à produção quantificável. Mas não há aqui alguma contradição lógica?

Esta abordagem quantitativa à produção científica desrespeita os ritmos variáveis do trabalho científico, encoraja projetos com horizontes temporais curtos, e incentiva a padronização da produção científica.

E este modelo de avaliação, baseado na acumulação de pontos como base da progressão ou da mera sobrevivência, induziu dinâmicas de competição, sobretrabalho e auto-exploração prejudiciais ao trabalho científico e ao funcionamento da universidade.


Pensamos que é necessário avaliar o atual modelo de avaliação para construir um outro que respeite a diversidade de orientações disciplinares e de conceções da actividade universitária; que não sacrifique a busca da excelência à produtividade; que estimule a participação e a colaboração de docentes e investigadores em projetos de equipas e da própria instituição; que não sacrifique a importância do ensino. Que seja participado, objetivo e transparente.

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